Ensaios

Ser Homem

homem em francês
se pronuncia com h mudo
homem em matogrossês
É Homem com h
Se corre ele pega, se fica ele come
Valentia de cobra
Serpentina penetrante
Lançadas nas peles carnavalescas
A pausa e o movimento
Conjugados em ritmo
O bicho inova
Começa a dançar
Toca a nota
Abstrai o vazio
Pisa no solo
Se afunda no inferno
Não teme o diabo
Escuta Dionísio
Vai ao seu encontro
Levanta
Pés no chão
Alça voo
Levita um instante
Alcança o feminino
Uma coisa lhe é revelada
Ele não suporta
Pois não tem base
O apoio lhe falta
L’être humain
Carta humana
Letra humana
Alternando maiúsculos
E minúsculos
Se queima da faísca divina
Está em Gaia
Não é ser
É ente
Fica do-ente de ser homem
E só
Ela o abraça

Goiânia, 18 de dezembro de 2024

Dra. Elise Alves dos Santos

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Ensaios

A visão do divã

À visão do divã

Árvore
Majestosa planta alta
Do Jardim América
Do Sul, do Centro-Oeste
Do coração do Brasil
Tem outra assim
Nessa Goiânia?
Vista do cômodo divã
A agenda repleta
De tempos preenchidos
Incômodos falantes
Sentidos de seiva
Percorridos, corridos
Através dos troncos e folhas
Um corpo imenso
Que busca direção
Rumo ao sol e a chuva
Porque a mãe-terra precisa
Mesmo dos postos opostos
Para fazer o sentido
De existir
Um vento mais forte
Soprou agora pouco
No final da última sessão

Goiânia, 25 de outubro de 2024

Dra. Elise Alves dos Santos.

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Ensaios

Cartema aos fazedores de pessoas vai-idosas: três versos nunca são demais

Seu rosto é seu cartão de visitas
Diz o discurso estético
Mais disseminado

Os médicos sendo os mais visados
Pra reprodução do argumento do
Bem envelhecer

Alerta de perrengues
Não abala adesões
A decisão transhumanista

É ética?
É Técnica?
É estética?

Ingênuo desconhecido
É você quem bate na porta
Do almejado não-saber?

Todas as alternativas anteriores
Nunca são demais aos
Passados por poucas e boas

Ou pior dizendo
Muitas e péssimas
Reações, adversidades

Culpas da indústria farmacêutica,
Ideológica, genérica, agista,
Que não faz pesquisa ou não se analisa

Máquinas de fazer pensares
Deformados,
Desarmonizados,

Que males inesperados
Se pode esperar
Com os enganos das verdadeiras idades

Dos atores-plateia que buscam
Masturbar um imaginário
Da beleza sem defeito

Reproduz o gosto formal
pela firmeza da juventude frágil
Que deve ser induzida

Custe o que custar
Um verso extra sem rima,
descabido, murcho
Deslugarizado

E o cartão de visitas
Serve para que?
Serve para quem?

Um primeiro passo para venda
Da própria cara
A imagem de « gente bonita »

Que só recebe carimbo de aprovação
Com a cara de quem dorme bem
Não tem ruga de preocupação

Canta forever young com orgulho
E paga caro pra ter voz
E paga com a própria cara

Pra ter rosto que se aguente
Pra alinhar e afinar as contas
Dos prejuízos de envelhecer

Perder o olhar
Perder o amor
Perder o desejo

Perder o tesão
O que é que pode ser um trem bão
Sem ser castração?

Quem tem cara de pau
Pra falar que não se preocupa
Com a aparência?

Questão de Eu-Pele
Que desaparece
Na pele de onagro

Dra. Elise Alves dos Santos,

Goiânia, 02 de outubro de 2024

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