A afirmação freudiana acerca do trabalho de Charcot de que a “hereditariedade nervosa” seria a única causa verdadeira e indispensável da teoria etiológica das afecções neuróticas, não corresponde ao que Charcot registrou enquanto “antecedentes hereditários” ou “temperamento”. A hereditariedade, todavia, era para o mestre de Freud uma categoria de investigação bem mais ampliada do que o jovem Freud pôde contar, ao criticar o mestre (Freud, 1896/1996; 1896/2023). O médico pesquisador do Salpêtrière já dava sinais de compreender a hereditariedade como o Freud (1939) maduro ao fim de sua obra, podendo incluir não apenas o que o sujeito experimentou, mas também traços de memória das experiências das gerações anteriores, ampliando significativamente a extensão da importância da herança arcaica1.
Embora eu não tenha localizado uma definição explícita do termo “hereditariedade” feita por Charcot, com a leitura dos dossiês, em especial dos jovens James Lévy e Sioen, fica clara a ideia de hereditariedade como maior que o adjetivo que a segue: “nervosa” (de nervos, ou células nervosas do sistema nervoso) de transmissão estritamente biológica, de informações genéticas herdadas pela via da reprodução humana2.
A esclerose múltipla (EM) doença neurológica pesquisada por Charcot juntamente com a histeria, aponta uma etiologia que combina predisposição genética e fatores ambientais. Buscando entender os desejos de viajar dos jovens James Lévy e Sioen, ambos diagnosticados com EM, proponho articular a leitura dos casos com as contribuições da psicanálise, considerado os estudos da neurologia e da psicologia.
Os casos que seguem ajudam a ilustrar como Charcot ensinou a Freud o que mais tarde ele iria sistematizar em teoria e na observação dos casos clínicos. Apesar da falta de créditos à Charcot cometida por Freud (Lepastier, 2004), a interlocução da psicanálise com a medicina segue necessária.
James Lévy e Sioen
Ao investigar os “antecedentes hereditários”, termo quase sempre abreviado com as letras A. H. em seus registros, Charcot inicia o dossiê de James Lévy, que tinha 29 anos na época. O avô, o pai e o tio dele eram judeus3, sendo o tio, artista da pintura. A mãe era nervosa, mas não tinha crises, nem antecedentes semitas4. A história de James Lévy é marcada por um nome de família derivado de ancestrais judaicos. Charcot aparentemente interessado pela herança cultural, escreve no campo “temperamento” do dossiê: “originário de Genebra”.
O jovem suíço aos 16 anos, abandonou furtivamente a casa de seus pais. Fez viagens para a América do Sul até os 20 anos. Durante sua estadia na República da Argentina5, ele teve dois ou três acessos de febre. Com 20 anos ele voltou à França bien portant (“bem de saúde”) e foi “bem se portando” que, sendo contador, foi empregado em um banco durante seis ou sete meses. Aparentemente deixando de se com-portar, as “vontades de viajar” o retomam e ele se engaja na Legião Estrangeira6.
Nos cinco anos que esteve no sul oranês7, aos 25 anos, acampava frequentemente. No penúltimo ano de serviço militar teve várias repetições de febres intermitentes. No final de 1885, na sequência da fase de trabalho no serviço militar em que ocorreram acessos de febre começou a apresentar diplopia (visão dupla), que persistiu por dois anos. No fim de agosto desse ano começou a ter rigidez e fraqueza das pernas, o que afetou sua marcha.
O fim do registro do caso de James Lévy coincide com uma escrita sem desfecho. Charcot conclui descrevendo os sintomas de esclerose múltipla do “estado atual”, tais como paraplegia espasmódica, com marcha titubeante, contratura da perna direita maior que a esquerda, formigamento nos membros, paresia facial do lado esquerdo, hemiespasmo glossolabial do lado direito, língua desviada à esquerda, fala lenta e embaraçada, nistagmo etc. Em nota posterior, Charcot realçou dentre alguns pontos que Lévy era semita de origem “convertido, não sabemos porquê”.
É curioso que embora os tremores da mão fossem leves, o jovem não pôde mais tocar piano, a expressão artística é suprimida após os sintomas de EM surgidos no período em que trabalhou no serviço militar. Ao final de 1889 sem mais registros, imagino que o jovem provavelmente, abandonou o acompanhamento médico.
O caso de Sioen, registrado por Charcot, também atravessa a temática da fuga, do desejo de viajar. Este doente de 24 anos foi avaliado em 25 de fevereiro de 1888, referido apenas por seu nome de família. Os breves escritos de Charcot sobre os antecedentes hereditários de Sioen remetem à sua “mãe um pouco viva, mas não histérica” e ao seu pai saudável, não tendo, portanto, “pais alienados”. Os antecedentes pessoais de Sioen foram registrados na forma de uma historieta. Com 14 anos, estando no colégio da Argélia, fugiu para Marselha8. Seu pai furioso o embarca como espuma9 a bordo de um três mastros americano que viaja Inglaterra-Nova Iorque e retorna à Argélia. Seu pai o recebe friamente e o envia à escola agrícola no departamento de Isère11 quando tinha 16 anos. Algum tempo depois disso, ele entra na Escola de Agricultura de Montpellier12, de onde sai diplomado.
Sioen é desestimado por seu pai, que com fúria aplica um castigo de colocá-lo em viagens marítimas intercontinentais. E no retorno, após aproximadamente dois anos, o recebe friamente. A partir desse momento, ele é “retomado pela vontade de viajar”. Ele volta para Nova York. Lá ele se torna miserável – faltava tudo. Foi obrigado a “figurar” em um teatro para conseguir pão. Parte para o Panamá – lá durante sua estadia que durou oito meses ele teve numerosos acessos de febre intermitente.
De volta para a França, ele ainda teve alguns acessos de febre a bordo do barco. Em sua chegada na França ele tinha 20 anos; quando deixou de ter seus acessos de febre intermitente, ele apresentou os primeiros sintomas de sua afecção atual. É quando as vertigens acalmam que ele “entra em desgostos”. Durante os exercícios a pé, seus superiores militares reprovaram-no por não andar direito, por fazer ziguezagues.
Charcot anotou: “Excesso de mulheres – de tabaco – de café”, fazendo referência às características de excessividade presentes em Sioen. Charcot anota que as ereções do jovem eram raras, “inutilizáveis”. Os reflexos cremasterianos eram abolidos durante o exame com o doente em vigília, mas durante o sono a polução acontecia. Neste ponto, observamos Charcot atento às manifestações corporais para além da vigília e consciência. Sioen passa uma segunda temporada na Argélia, onde então assume uma marcha claramente titubeante. Na entrada no hospital de Oran apresentou vertigens, titubeação e rigidez nas pernas e fora enviado ao hospital militar de Bordeaux três meses depois (novembro de 1887).
Em 25 de dezembro teve problemas na visão e via como “através de um nevoeiro”. Em 27 de janeiro saiu do hospital militar reformado com as pernas rígidas de tal modo que não podia andar senão apoiado por um acompanhante. Sioen foi aposentado aos 24 anos de idade.
O adoecimento aparece descrito por Charcot como se houvesse uma percepção da relação corpo-psiquismo que aparece aqui como hipótese não declarada ou de pano de fundo, em que Charcot pôde escutar os conflitos edipianos como pista para considerar a etiologia da doença.
Leituras psicanalíticas
Os casos são marcados pela saída da terra de origem, vontades imponentes de viajar milhares de quilômetros percorridos por diferentes continentes distantes geograficamente e longe da família e da cultura de origem. Os casos de James Lévy e Sioen – que considero “casos extremos”- para usar a expressão de Freud (1912/1996), ainda que analisados separadamente, em sua singularidade apresentam um conjunto comum de fatores etiológicos para a condução da vida erótica. Uma carga de herança simbólica em que a instância psíquica do Eu enquanto superfície corporal encarrega-se de encontrar lugar pela via dos desejos de viajar.
O corpo é levado, literalmente, a se movimentar em longas distâncias para chegar ao extremo possível de outras posições, ainda que no mapa geográfico e ao adoecimento ligado à constituição, como um precipitado dos efeitos acidentais produzidos na cadeia infindavelmente longa de seus ancestrais.
Lévy e Sioen pareciam sentir-se perdidos, buscando lugares para estar no mundo. A sensação de estar perdido no mundo, digamos de uma certa inquietude, relaciona-se ao indizível, ao interdito, ao recalcado. O problema especial da natureza da força motora, que permite a repressão operar, constitui uma fonte constante de preocupação para Freud, sendo a angústia uma das principais forças motoras que conduzem à repressão (Strachey, 1915/1996).
Vale lembrar que o inquietante é também uma espécie de coisa assustadora que remonta ao que é bastante familiar (Freud, 1919/2010), que se apossa do corpo e ganha vazão pela realização das viagens. A viagem de barco para longe de casa, que em outro momento teria sido um castigo de seu pai, o retorno à terra natal, à cultura de origem, à família são momentos de manifestação do adoecimento para Sioen. A par da coincidência temporal, Charcot parecia estar atento ao fato de que o início de sua doença pudesse ter relação com um movimento de fuga/retorno às origens.
A fuga, considerando Freud (1915/2010, p. 149), representa a fuga do Eu, que se manifesta na retirada do investimento consciente e ocorre de maneira bem mais profunda e radical nas neuroses narcísicas. As fugas13 ou a realização dos desejos de viajar consistem então na retirada do investimento pulsional dos lugares que representam a inconsciente representação de objeto.
A “apreensão ansiosa” vivida, seja durante o serviço militar, seja nas ereções “inutilizáveis”, ou em situações de miséria aconteciam na tentativa de fugir do desamparo (embora acabasse o encontrando). É possível que, segundo Assoun (2013), haja uma espera por catástrofes ou malogros em que a angústia aparece pela via de um estado febril de excitação. O reconhecimento da diferença da qualidade de insatisfação presente na histeria e na neurose de angústia14 não impede Assoun (2013) de estabelecer “relações íntimas” entre elas, visto que um “pedaço” de neurose de angústia não faltará nas histerias como também em outras “psiconeuroses”.
A vivência do conflito edipiano (não só com o pai real, o furioso, mas a cultura antissemita, agressiva, desde tempos ancestrais) nos jovens atendidos por Charcot pode ser inferida na busca impetuosa de um lugar onde pudessem se posicionar diante do desejo do outro. A aceitação de condições que os colocavam em sacrifício parecia evitar uma porção da realidade de suas origens, mediante a fuga. A fuga, segundo Green (1988, p.126), “é uma atitude, se é que se pode dizer, “ativamente passiva”. É pela via do trabalho com a arte – figurar em um teatro15 – para poder comprar pão, que Sioen sai da inércia masoquista de não ter o que comer – e busca uma saída ao desamparo revivido na América, esboçando nesta ocasião uma espécie de ação específica diante dos conflitos edípicos e “exigências da vida” (Freud,1895[1950]/1996, p. 349).
A história de conversão da religião, de sua relação com o Pai simbólico, ou do desejo de se desligar do ambiente doméstico, podem ser fatores importantes na manifestação da EM, uma vez que ela parece ter eclodido depois de originariamente passar por um processo de implosão em que o esfacelamento de barreiras imunológicas chegaram a um extremo de sua capacidade normativa em determinado momento. De modo que os sintomas de EM dos jovens mantêm ligação com as vivências singulares de angústia, desgostos e repressão.
Com base em Inglez-Mazzarella (2001) supomos que a atitude dos jovens atendidos por Charcot de não conseguir ficar muito tempo dentro de casa, pode significar uma identificação (que assumiu um aspecto agressivo) com a figura do pai. A autora considera a contextualização do século XVIII em que a vida doméstica das mulheres estava vinculada ao “dentro de casa” e a dos homens ao “fora de casa”. Parece que os jovens precisavam sair recorrentemente de casa para poderem voltar e então serem recebidos após períodos de sacrifícios pessoais.
Os jovens adoecidos pareciam reagir ao buscar inconscientemente a destruição da figura paterna, no entanto acabavam revertendo a destruição para seus próprios corpos, durante viagens e decisões que os colocavam em situações de risco. Seria o caso de se pensar, com base em Freud (1923/2011) numa pulsão de destruição posta a serviço de Eros para fins de descarga, de uma satisfação.
Consoante a Freud (1919/2015), no texto sobre Considerações gerais sobre o ataque histérico, sugiro que as fantasias edípicas sobrepostas e as inervações somáticas levam os doentes de Charcot a realizar o desejo de viajar. Tais vontades contemplam tanto um desejo recente como indicam uma impressão infantil reavivada. As viagens repentinas ou fugas intempestivas podem atuar como uma espécie de condensação para a criação de uma forma de ataque histérico. De outro modo, podemos acrescentar que o “sistema mnêmico” do corpo adoecido pela EM é capaz de reativar as bases da lembrança por excitações recebidas, que por sua vez, reatualizam os traços mnêmicos inconscientes marcados pelas experiências vividas (Santos, 2019).
Os registros da pluma charcotiana são breves e pontuais, o que parece refletir também um discurso enigmático, desinvestido16 ou sem maior elaboração por parte dos doentes. As fugas e a atitude que se esboça na descrição dos casos, são uma demonstração do (não) saber – inconsciente – diante da relação corpo-psiquismo como uma suspeita acerca da sexualidade, enquanto agente provocador do adoecimento no corpo.
Assim, embora os registros charcotianos não permitam maiores discussões, nossa leitura de casos descritos pelo mestre de Freud nos leva a supor que existem em ambos os casos certos círculos de pensamento e de interesse em viajar que são dotados de poder afetivo, seja de ódio, enfrentamento ou desejo de morte/desligamento do rival do pai/figura paterna introjetada. As manifestações da EM podem ser interpretadas neste contexto como sinais de algo transmitido geracionalmente (algo que a epigenética pode nos ajudar a pensar). As ações específicas diante dos conflitos edipianos se mostram pela errância de Lévy e Sioen, nas viagens que parecem representar a busca por um tipo especial de escolha de objeto.
Segundo Bouchara (2014), para Charcot, que era um viajante frequente, “a viagem é uma cura”. Freud, que também adorava viajar, parece ter herdado mais este ensinamento da vida de seu antigo mestre. Por mais que o corpo de James Lévy e Sioen sofressem os sintomas orgânicos da esclerose múltipla, e das misérias sociais que puderam viver longe de casa, as viagens tomam o lugar da cura buscada no processo de tentativa de dissolução de conflitos eminentemente edipianos, considerando o Édipo um complexo sociossexual, que envolve a cultura herdada desde antes do nascimento dos jovens do-entes.
Referências
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1. Contardo Calligaris em um dos episódios do seriado PSI apresenta a questão no episódio “A herança”.
2. Penso que se Freud estivesse lendo a interpretação feita aqui, ele mesmo pudesse ficar nervoso, mas não em função de sua hereditariedade nervosa, mas sim por sua discípula estar lhe incitando a fazer as pazes entre os pais, cada um com sua marca de contribuições (seja como pai da neurologia ou como pai da psicanálise). Talvez ele, usando nossa linguagem informal, pudesse dizer que estou viajando. Viajando nos papeis velhos e despedaçados de Charcot.
3. Há mais de 2000 anos, os judeus foram, repetidamente, expulsos de suas terras natais originais ou das áreas onde estavam residindo. Foram difamados como grupo inferior, sendo que os antissemitas negam que eles sejam parte das nações em que residem. Interessante notar que Freud ( 1912/1996, p. 111) considera que se poderia ousar encarar a própria constituição (fatores inatos) como um “precipitado de efeitos acidentais produzidos na cadeia infindavelmente longa de nossos ancestrais”.
4. Os semitas foram os primeiros povos a professar uma religião monoteísta, cultuando um único Deus. Lebrun (2004, p. 48) nota que, em nossa civilização, “a representatividade garantida pelo Pai pode ser atribuída à influência do monoteísmo”.
5. A Argentina situa-se a aproximadamente 11670 quilômetros de Paris.
6. A Legião Estrangeira é um destacamento militar criado por um país e formado por voluntários estrangeiros. Uma vez que os seus membros estão permanentemente em serviço, não seguem a mesma estrutura de um regimento padrão. Normalmente, a expressão “Legião Estrangeira” é usada em alusão à Legião Estrangeira Francesa que é uma unidade militar de grande desempenho da França criada no século XIX (1831) por Louis Philippe I de França, cuja sede fica na cidade de Aubagne (aproximadamente 800 quilômetros de Paris). Atualmente é a mais famosa e única legião estrangeira cuja tropa de elite está em operação no mundo.
7. Oran a mais de 2200 quilômetros de distância de Paris, uma das maiores cidades da Argélia Francesa, na época era território francês além-mar.
8. São 1728 quilômetros de travessia do continente africano (Argélia) para a costa marítima francesa do Mediterrâneo (Marselha).
9. Em francês a palavra mousse neste contexto significa jovem menino, sobre um navio de comércio, que aprende o trabalho de um marinheiro. A mesma palavra também apresenta o significado de espuma proveniente de águas agitadas, bem como musgos que se acumulam em pedras.
10. Navio de comércio.
11. Situado no sul da França, a quase dois mil quilômetros distante da Argélia.
12. Aproximadamente 340 quilômetros de distância de Isère.
13. Exemplos mais recentes sobre a fuga de estímulos podem ser encontrados em Inglez-Mazzarella (2006).
14. A neurose de angústia exibe um quadro clínico de irritabilidade, estados de expectativa angustiada, fobias, ataques de angústia completos ou rudimentares, ataques de medo e de vertigem, tremores, suores, congestão, dispneia, taquicardia, diarreia crônica, vertigem locomotora crônica, hiperestesia, insônia etc. (Freud, 1896/1996). A etiologia das neuroses de angústia é composta pelo acúmulo de excitação e pela abstinência forçada; pela excitação de origem somática não aliviada que não termina em gratificação; pela natureza sexual que perturba o equilíbrio das funções psíquicas e somáticas e pelo impedimento ou diminuição da participação psíquica necessária para libertar a economia nervosa da tensão sexual (Freud, 1895/1996; Freud 1896/1996).
15. A possibilidade de atuar no teatro, lugar onde “realidade e/ou fantasia se condensam (Gaulejac, 2014, p. 148) parece auxiliar de alguma forma na criação do romance familiar, pois ao contar uma história é possível incitar a própria trajetória psicossocial.
16. Com razão, Freud (1896/2023, p. 148-149) criticava: Os médicos adquiriram o hábito de não investigá-los [os distúrbios sexuais] se o próprio paciente não os apontava.
* Texto publicado no XIV Encontro Nacional e XIV Colóquio Internacional do Corpo Freudiano Escola de Psicanálise – Núcleo João Pessoa: O Saber da Psicanálise e o Contemporâneo, em novembro de 2023.